Série Napolitana 1 – A Amiga Genial

A plebe éramos nós. A plebe era aquela disputa por comida misturada a vinho, aquela briga por quem era servido antes e melhor, aquele pavimento imundo sobre o qual os garçons iam e vinham, aqueles brindes cada vez mais vulgares. A plebe era minha mãe, que tinha bebido e agora se deixava levar com as costas contra o ombro de meu pai, sério, e ria de boca escancarada às alusões sexuais do comerciante de metais.

“Não para você: você é minha amiga genial, precisa se tornar a melhor de todos, homens e mulheres.”

“Não quero ler mais nada do que você escreve.”

“Por quê?”

Pensou um pouco.

“Porque me faz mal”, e bateu no centro da cabeça com os dedos, morrendo de rir.

Exibiam gentileza e cortesia diante de todos, como se fossem John e Jacqueline Kennedy em visita a um bairro de miseráveis.

Então peça isso a seu irmão, a seu pai, a algum amigo seu, pode ser que eles sejam capazes. Mas deixe claro a todos que primeiro devem matar a mim. Porque, se tocarem em outra pessoa enquanto eu estiver viva, sou eu que mato vocês, e você sabe que sou capaz disso, vou começar por você.

O mundo de Lila, como sempre, se sobrepôs ao meu num instante.

Aquela carta teve como primeiro efeito me fazer sentir, aos quinze anos, no dia do meu aniversário, uma impostora.

Em poucos dias nos tornamos um trio em que eu, no entanto, que tinha ficado em primeiro na escola, tendia a ser quase sempre a terceira.

Então eu era a segunda em tudo. E torci para que ninguém jamais percebesse.

Nosso mundo era assim, cheio de palavras que matavam: crupe, tétano, tifo exantemático, gás, guerra, torno, escombros, trabalho, bombardeio, bomba, tuberculose, supuração. Atribuo os medos inumeráveis que me acompanharam por toda a vida a esses vocábulos e àqueles anos.