Filhos de Fé remonta cenas da vida de Fernanda Gabriela, criada em meio aos costumes do Culto Africano Oxalá e Iemanjá em Esteio (RS). Além de preocupar-se em orientar quem não conhece as religiões de matriz africana, Fernanda apresenta vivências bastante específicas do espaço sincrético em que atua, como podemos ver no trecho a seguir:
«Neta de uma querida e respeitada Mãe de Santo, filha de uma cambona dedicada que eu vi tornar-se uma médium exemplar, nasci sentindo o cheiro do defumador, ouvindo o bater das sinetas, observando o movimentos dos búzios. Nasci entre os costumes da Umbanda Cruzada e do Batuque Gaúcho, aprendendo de ambas as vertentes. Aos nove anos de idade, substituí minha mãe como cambona e ela passou a ser médium de incorporação. Desde então, são dezesseis anos como cambona, e vinte e cinco anos observando uma terreira que, logo, completará os cinquenta. Quantas pessoas necessitadas, quantas velas, quantas flores, quantas Sessões… Quantas noites ao som dos pontos e das rezas, embaladas pelo amor das Entidades e dos Orixás.»
(trecho do primeiro capítulo de Filhos de Fé — histórias da terreira de minha avó).
Segundo o professor Alexander Magnus, Mestre em História pela UFBA, Filhos de Fé trabalha os conceitos de etnia, religião, história, memória e depoimento sem recorrer à linguagem acadêmica, pois «narrar a vivência familiar, muitas vezes, não cabe no mundo cartesiano — não há régua ou fórmula para mensurar um universo cheio de nuances.»